FANTASMA DO METRÔ VIVE ESCONDIDO SOB SÃO PAULO
Vulto, barulho metálico e um segredo podre enterrado debaixo dos trilhos da cidade.
Vulto, barulho metálico e um segredo podre enterrado debaixo dos trilhos da cidade.
A rotina pacata de um trabalhador foi quebrada perto da meia-noite na plataforma da Estação Consolação. O que parecia só mais um atraso virou relato de vulto no túnel, som metálico de gelar o osso e uma pulga atrás da orelha que não saiu mais.
Segundo o passageiro, o barulho era agudo, metálico, desses que não combinam com trem nem com silêncio. “Não era coisa de manutenção”, teria dito a um amigo que esperava o metrô ao lado. O medo ficou. A dúvida também. E a paranoia começou a trabalhar em turno extra.
Dias depois, a obsessão venceu o bom senso. O homem largou o emprego formal e assumiu trabalho noturno de limpeza no próprio metrô. Enquanto esfregava chão e engolia mofo, passou a reparar nas placas vermelhas espalhadas como ameaça oficial: “Cuidado, risco de morte”. Aviso tem motivo.
Numa madrugada em que as câmeras estariam desligadas para manutenção, ele cruzou a portinhola proibida e entrou no túnel. Luz falhando, água escorrendo pelas paredes, cheiro de ferrugem e abandono. O cenário perfeito pra quem gosta de esconder problema embaixo da cidade.
Depois de horas caminhando pela terra vermelha, encontrou o improvável: uma casa antiga enfiada no subsolo. Lá dentro, um senhor em cadeira com rodas improvisadas, pincel numa mão, microfone na outra. Ao lado dele, um rato gigante de coleira, fazendo guarda como se fosse funcionário terceirizado do inferno.
O velho contou uma história indigesta. Disse que ficou preso durante as obras iniciais do metrô, esquecido como entulho humano. Sobreviveu com insetos, pinga barata e água de infiltração. Foi resgatado por acaso, perdeu as pernas e ganhou silêncio como indenização.
Hoje, viveria escondido, prestando “serviços informais”: retoca sinalização, testa alto-falantes e anda pelos trilhos quando ninguém vê. O vulto visto na plataforma? Segundo ele, era só uma saída rápida pra comprar pão e mamão pro rato. Normal, dizem.
A história escorre como graxa velha: fala de abandono, descaso e da mania histórica de empurrar gente pro subterrâneo — literal ou simbolicamente — e fingir que não existe. Não é monstro. É sobra humana.
QUEM GANHA
- O sistema, que varre a sujeira pra debaixo da terra
- A pressa cotidiana, que evita perguntas incômodas
- O silêncio institucional, sempre pontual
QUEM PERDE
- Quem trabalha até o osso e vira invisível
- A cidade, que normaliza o abandono
- O passageiro, que acha que medo é só imaginação
Em São Paulo, até a consciência anda de metrô… e prefere não olhar pro túnel.